sábado, 9 de abril de 2011

Resenha: Filme Frida

(rabisco meu)

A vida breve de Frida Kahlo é relatada numa história de amor heróica. A direção forte e cheia de imaginação de Taymor destaca a paixão que uniu Kahlo ao muralista Diego Rivera, enquanto Salma Hayek faz da personagem um ícone de sobrevivência, independência, coragem e inconformismo feminino.
A história começa com Frida ainda adolescente, em 1922, na Cidade do México, com seu namorado (Diego Luna), espionando o famoso muralista Rivera (Alfred Molina) enquanto ele desenha uma modelo e, em seguida, tenta seduzi-la.
Os dois acham graça quando a tentativa do pintor é interrompida por sua então esposa, Lupe Marin (Valeria Golino), que passa a enumerar as razões pelas quais Rivera não satisfaz como marido e é um eterno sedutor.
A cena também serve para mostrar o clima geral de permissividade e experimentação sexual que vai caracterizar o relacionamento futuro de Frida e Diego.
O bonde em que Frida vai para casa naquele dia se envolve num acidente terrível com um ônibus. A garota é encontrada com um pé esmagado, a coluna dorsal e a pelve quebradas e a parte inferior de seu corpo atravessada por uma vara metálica.
As cirurgias e o processo de recuperação que se seguem são infinitamente dolorosos e levam sua família à falência, mas, enquanto se recupera, ela começa a desenhar e pintar.
A partir desse início terrível, o filme mostra como o sofrimento de Frida - e, mais tarde, seu amor - é a fonte de inspiração de sua arte surrealista.
Quando ela consegue andar outra vez vai visitar Rivera e pede que ele faça a crítica de seu trabalho. A química imediata entre eles evolui para um romance que vira casamento - o terceiro de Diego.
Embora a mãe de Frida desaprove, dizendo que é o casamento "de um elefante com uma pomba", os dois têm em comum sua natureza apaixonada e um profundo engajamento com a política radical (de quebra, o filme oferece uma visão interessante do México como reduto de artistas e políticos libertários).
A festa de casamento de Frida e Diego tem lugar na sede do Partido Comunista, cujos membros incluem a célebre fotógrafa Tina Modotti (Ashley Judd) e o pintor David Alfaro Siqueiros (Antonio Banderas, numa participação especial em uma única cena).
Embora o filme não passe por cima da militância política deles, adota um enfoque distanciado, glamurizando a vida boêmia de artistas como Rivera e Modotti, que frequentavam bares de trabalhadores.
Várias dessas cenas parecem inspiradas em O Conformista, de Bernardo Bertolucci, também ambientado nos anos 1930 - especialmente a elegância de Judd no papel de Modotti e o tango sensual dela com Frida, que acaba revelando publicamente a bissexualidade da pintora mexicana.
Alguns dos fatos verídicos mostrados são mais surpreendentes do que qualquer ficção - por exemplo, o caso que Frida tem com o envelhecido Leon Trotsky (representado admiravelmente por Geoffrey Rush).
Apesar de trazer momentos belíssimos à tela, o final poético não é exatamente célebre. Percebe-se a dificuldade de encontrar equilíbrio entre a deterioração da relação de Frida e Diego, sua traição por sua irmã (Mia Maestro), sua prisão após o assassinato de Trotsky, novos quadros, cirurgias e doenças.
Mas a fotografia é inegavelmente encantadora. Em busca de imagens vívidas, a diretora Julie Taymor encontra inspiração em diversas fontes, incluindo jardins flutuantes, ruínas aztecas, máscaras mortuárias mexicanas e cartões postais de época.
O maior achado visual do filme é a recriação feita de dezenas de pinturas notáveis de Kahlo, hoje reconhecida como uma das maiores artistas do século 20. Muitas delas revivem repentinamente na tela com Hayek ou Molina, sublinhando a relação estreita que existia entre a vida e a arte de Frida.
O designer de produção Felipe Fernandez del Paso conferiu ao filme um visual étnico forte com as recriações das incríveis casas de Frida, muitas vezes usando os locais reais onde a pintora viveu.
E a trilha sonora de Elliot Goldenthal acompanha de perto a música folclórica mexicana, especialmente na música Burn it Blue, cantada em dueto por Caetano Veloso e a mexicana Lila Downs.

(Professor Fernando)


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